O luto é um processo natural de elaboração da perda de alguém ou de algo significativo, que engloba diferentes tipos de perdas: a morte de um ente querido, de um animal de estimação, divórcio dos pais, doença crónica, entre outras.
Tal como os adultos, as crianças também vivenciam o luto, no entanto, elaboram-no de forma distinta de acordo com a idade.
As crianças, independentemente da sua idade, podem ser ajudadas a compreender a perda e a morte, uma vez que estas fazem parte do ciclo natural da vida. Não é aconselhavel recorrer a mentiras ou meias verdades. Há sim que fornecer a informação em função do seu nível de compreensão.
Observam-se diferenças significativas na perceção da morte nas várias fases de desenvolvimento. Com base nos estágios de desenvolvimento cognitivo de Piaget, apresentamos de seguida as várias etapas relativas à compreensão da morte por parte das crianças:
– Crianças com menos de 3 anos, não compreendem completamente que um objeto tem existência independentemente da sua perceção sensorial. Apesar da criança reagir à ausência de um cuidador, não compreende o conceito de morte.
– Crianças entre os 3 e os 6 anos, encaram a morte como temporária e reversível. Podem percecionar a morte como um sono profundo ou como uma perda de mobilidade. As pessoas podem morrer e voltar a viver, como nos contos de fadas. Tendem a acreditar que os pensamentos interferem na realidade externa, assim, alguém pode morrer simplesmente porque a criança o desejou o que poderá levar a que surjam sentimentos de culpa.
– Crianças entre os 7 e os 10 anos, começam a considerar a morte como definitiva, atribuindo-lhe causas concretas (e.g. doença, acidente). É comum fazerem perguntas sobre a morte.
– Após os 11 anos: compreendem que a morte é permanente e irreversível e começam a perspetivá-la como fazendo parte do ciclo normal de vida.
Saber como as crianças concebem a morte ajuda os adultos a compreender os comportamentos da criança perante uma perda e a fornecer-lhes o apoio e suporte necessários.
É de sublinhar também que cada criança é única e, por isso, vivencia de forma diferente a perda. A reação das crianças em resposta à morte de um outro significativo é diversificada e pode incluir: choque; surpresa; isolamento; tristeza; retrocessos no desenvolvimento, desinteresse, culpa; desconforto físico; ansiedade; insónia, pesadelos; perda de apetite; medo; angústia de separação; diminuição do rendimento escolar, entre outros.
Não obstante qualquer uma destas manifestações se enquadrar num processo de luto normal de uma criança, quando nos deparamos com uma duração prolongada no tempo ou quando se observam reações muito intensas, permite-nos equacionar a possibilidade de estarmos perante um” luto complicado” que merece a atenção de um profissional de saúde.
Vivenciar um luto é das situações mais dolorosas para o ser humano. Nós acreditamos que podemos ajudar. Acredite também!