O que é a Psicoterapia Corporal?
A Psicoterapia corporal abrange diversos modelos psicoterapêuticos, tendo em comum o papel do corpo no processo terapêutico e a forma como este pode fortalecer o diálogo entre paciente e psicoterapeuta. Na psicoterapia corporal mente e corpo trabalham em relação com as suas complexidades e sem esquecer a influência do meio nas experiências do indivíduo.
Alexander Lowen (1977) – um dos grandes promotores da psicoterapia corporal a nível mundial – refere que o objectivo principal do trabalho corporal é proporcionar mais saúde e qualidade de vida, a partir de uma maior consciência corporal, facilitando processos que ajudem a expressão mais adequada de dores, prazeres, alegrias, tristeza, raiva, amor e sexualidade.
São vários os benefícios que os clientes relatam no final do processo terapêutico; uma respiração mais profunda, uma maior sensação de vitalidade e energia, uma percepção ampliada da realidade, maior consciência corporal, sentimentos e comportamentos integrados e mais espontaneidade nos movimentos e na auto expressão.
O crescimento da perspectiva relacional em psicoterapia e o avanço generalizado da investigação em neurociências abriram novos caminhos de intervenção e compreensão em psicoterapia, que se estenderam para a vertente corporal, fortalecendo-a e aumentando o número de profissionais que a ela recorrem.
O início da integração do corpo em psicoterapia acontece com Wilhelm Reich, que introduz no processo psicoterapêutico a observação do corpo e da respiração – elementos centrais – bem como a atenção às expressões da cara, à qualidade da voz e aos padrões corporais.
Este trabalho lança o início de um olhar mais amplo e diferente sobre as temáticas trazidas para o consultório, uma vez que o terapeuta passa a ter em conta informação expressa pelo corpo, que contradiz inúmeras vezes a expressão verbal. Por exemplo, uma pessoa pode sorrir, mas não estar consciente da expressão de tristeza que o rosto mostra. Pode, também, expressar verbalmente palavras simpáticas sem perceber que usa um tom de ressentimento, expresso também pelo olhar, ou que o seu maxilar está tenso e fixado numa expressão de desprezo.
Várias técnicas de intervenção corporal nasceram com o trabalho de Reich, algumas delas derivando em vertentes psicoterapêuticas importantes, como é caso da Vegetoterapia, da Análise Bioenergética, da Biossintese e a Biodinâmica, entre outras.
O que esperar de uma sessão de Psicoterapia Corporal?
Um psicoterapeuta corporal recorre a técnicas específicas do trabalho corporal, no entanto, aplica também todas as restantes técnicas habitualmente usadas, já que essas técnicas não colidem com o trabalho centrado no corpo, completando-o. O psicoterapeuta corporal fala naturalmente com os seus clientes, explora os seus processos, centra-se na relação terapêutica e tenta ajudá-los a dar significado às suas experiências.
Pode-se considerar que o diferencia a Psicoterapia Corporal de outras técnicas é a utilização de intervenções como o toque, a postura, a respiração e outras tantas actividades que introduzem movimento e contacto físico com o intuito de promover uma maior consciência própria e ajudar os clientes a expressarem as suas emoções.
Trabalhar com psicoterapia corporal é ir além do trabalho que até aqui se vinha a fazer, integrando a componente física não só na análise e compreensão das temáticas em trabalho, como na promoção de exercícios físicos específicos que melhoram a consciência do indivíduo sobre si mesmo e as suas experiências de vida, a sua vitalidade corporal e a expressão de emoções, resultando em melhorias significativas da qualidade de vida.
As situações traumáticas e experiências de vida instalam-se e manifestam-se corporalmente. O psicoterapeuta corporal olha para o corpo do cliente como um documento físico da história de vida do indivíduo, o qual contém as suas memórias de experiências traumáticas mais precoces, as suas crenças, atitudes e estratégias – psicológicas, comportamentais e físicas – desenvolvidas como resposta.
Numa sessão de Psicoterapia corporal trabalha-se com essa história, enquadrando-a e permitindo ao cliente dar significado às suas experiências de vida, alternando entre a comunicação verbal e exercícios físicos específicos, dirigidos às necessidades de cada pessoa. É um trabalho de proximidade, que permite aceder a dimensões mais profundas do ser, a partir de um lugar de segurança e confiança relacional.
Este trabalho pode acontecer em sessões individuais ou em grupo.
O que é o Grounding?
Grounding ou enraizamento, é a capacidade que uma pessoa tem de estar em contacto com o chão que pisa, sentindo os pés, as pernas e o corpo com a vitalidade e energias necessárias para se movimentar e levar a vida em frente.
Uma pessoa que não sente o chão que pisa, que sente que as suas pernas não têm força e que se movimenta com dificuldade, dificilmente conseguirá levar a cabo as tarefas do dia-a-dia de forma leve e adequada e poderá sentir muita dificuldade em tomar decisões, uma vez que a mensagem que o corpo transmite é a de que não tem força e está debilitado.
Na psicoterapia corporal este é um conceito central e trabalha-se com exercícios específicos para que cada pessoa tenha consciência do seu nível de desenraizamento, procurando novas formas de voltar a reenergizar o corpo, devolvendo-lhe a capacidade de se sentir mais forte, mais em contacto com o mundo e consigo próprio.
Voltar a acordar o corpo, relembrando-o como é sentir-se vitalizado é, de alguma forma, como voltar a casa. Uma casa da qual nos fomos afastando e desligando, pelas experiências difíceis da vida que nos obrigaram a procurar estratégias para não sentir com a mesma intensidade. Um corpo adormecido pode não sentir uma dor tão intensa, mas não sente também alegria, nem consegue aproveitar a vida de forma satisfatória.
Psicoterapia Corporal pelo mundo fora
Psicoterapeutas como David Bercelli (2005), desenvolveram ainda mais a base do trabalho corporal em psicoterapia, elevando-o através de novos exercícios (TRE – Trauma Releasing Exercises) especificamente dirigidos a situações traumáticas, com resultados comprovados ao nível de trabalho com comunidades devastadas por intempéries e com soldados que apresentam perturbação de stress-pós traumático.
A Psicoterapia Corporal é hoje uma técnica mundialmente difundida e são cada vez mais os defensores da integração do corpo em terapia, com vista a um trabalho psicoterapêutico completo e eficaz. Mesmo terapeutas que não recorrem necessariamente a trabalho físico, optam por técnicas de respiração e consciência corporal que permitem uma maior consciência de si e dos processos internos do indivíduo.
Actualmente, a Associação Americana de Psicoterapia Corporal (United States Association for Body Psychoterapy – USABP) em conjunto com a Associação Europeia de Psicoterapia Corporal (European Association for Body Psychoterapy – EABP) continua a desenvolver investigação no sentido de recolher mais evidência para a eficácia e resultados da Psicoterapia Corporal.
Bibliografia
Bercelli, D. (2005). Trauma releasing exercises: A revolutionary new method for stress/trauma recovery. Charleston, SC: BookSurge LCC.
Boadella, David (1985). Nos Caminhos de Reich. Summus, 1985.
Boadella, D. (1988). Wilhelm Reich: the Evolution of His Work. Chicago: H. Regnery.
Lowen, A., & Lowen, L. (1977). The way to vibrant health: a manual of Bioenergetic exercises. New York: Harper & Row.
Reich, W. (2002). Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995VOLPI, José Henrique. Psicoterapia corporal – Um trajeto histórico de Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2002.
Rohricht, F. (2009). Body oriented psychotherapy. The state of the art in empirical research and evidence-based practice: a clinical perspective. Body, Movement and Dance in Psychotherapy, 4 (2), 135-156.
Soth, M. (2005). Body psychotherapy today: an integral-relational approach. Therapy Today, 16 (9), 8-12.
Totton, Nick (2003). Body Psychotherapy. McGraw-Hill Education (UK).
Young, C. (2005). What is body-psychotherapy? A European perspective.