O que são competências socioemocionais?

Tratam-se de competências que se adquirem desde fases muito precoces do desenvolvimento, através da interação da criança com a família e que vão sendo desenvolvidas ao longo da vida na relação com os pares, grupos sociais (escola, prática desportiva, religião, entre outros).

Estas correspondem aos conhecimentos, atitudes e competências que cada pessoa precisa consolidar para fazer escolhas coerentes consigo próprio/a, ter relações interpessoais gratificantes e um comportamento socialmente responsável e ético.

Para que servem as competências socioemocionais que dizem respeito ao próprio comportamento?

A Autoconsciência, permite reconhecer corretamente as emoções e pensamentos e influência destes no comportamento; Por ex. «Estou zangado, por isso quando o meu colega me empurra na fila para o refeitório, eu tenho vontade de o empurrar de volta com o dobro da força».

A Gestão emocional que é a capacidade para regular as emoções, pensamentos e comportamentos; Por ex. controlar os níveis de ansiedade perante uma situação assustadora ou procurar atividade que lhe causem bem estar quando se sente muito triste.

Por último a Consciência social, que permite empatizar com os outros e colocar-se no seu lugar… a tradicional premissa: «Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem.»

Para que servem as competências socioemocionais que que dizem respeito ao desenvolvimento e manutenção de relações afetivas?

Estas competências permitem estabelecer e manter de forma saudável, relações com diversas pessoas e grupos. Pois promovem a tomada de decisão responsável, ou seja, a pessoa decide de forma construtiva acerca do seu comportamento e das suas interações sociais, com base em considerações éticas, normas sociais e faz uma avaliação realista das consequências de várias ações, e do bem-estar próprio e dos outros. Podemos dar o exemplo de uma criança que na escola, consegue ponderar uma resposta «torta» ao Professor, através da análise das regras sociais, dos papéis que ambos têm (aluno/professor) e acima de tudo das consequências para o próprio a curto e médio prazo.

As Competências Socioemocionais trazem benefícios imediatos, mas também a longo prazo sendo importantes fatores preventivos de insucesso escolar e problemas de adição e de comportamentos de risco…

  •  Maior envolvimento na escola, nas aprendizagens e probabilidade de sucesso escolar
  • Melhoria da regulação emocional, ajustamento atitudinal e comportamental (p. ex., capacidade de se automotivar);
  • Diminuição de mal-estar psicológico (p.e., ansiedade e depressão), consequentemente diminuição do risco de desenvolver alguns tipos de perturbações mentais;
  • Maior capacidade de resolução de problemas e resiliência;
  • Prevenção do risco de uso/abuso de substâncias;
  • Menor risco de comportamento antissocial e criminal;
  • A longo prazo, uma integração social com sucesso e um adulto mais saudável.

O Desenvolvimento de Competências Sociais em Contexto Clínico…

Em tempos de regresso à normalidade social após dois anos pandémicos, em que todos nos vimos impedidos de viver e ter experiências relacionais fora do nosso agregado familiar, sem acesso a Creches, Jardins de Infância e Escolas, as crianças foram quem mais sofreram com esta privação, pois não puderam desenvolver e treinar as suas competências socioemocionais.

Assim, o contexto clínico, poderá ser um meio privilegiado para apoiar e promover o desenvolvimento de competências socioemocionais.

Numa primeira fase e muito importante do processo, através da relação terapêutica estabelecida com o clínico e posteriormente com a sua intervenção recorrendo a exercícios, dinâmicas de role-play, reflexões ou jogos, dependendo das idades e das competências que necessitam de ser trabalhadas. É também muito importante tratando-se de crianças ou jovens, o trabalho articulado com a família, esta pode promover momentos em casa e em contexto familiar que são muito importantes para a criança ou jovem e que vão dar continuidade e consolidar o trabalho feito em consulta. Pois por vezes e porque estas aquisições são geralmente feitas de forma informal, a família não identifica a necessidade de reforçar alguns comportamentos que são fundamentais para a aquisição deste tipo de competências.

O trabalho articulado entre família e clínico poderá tornar-se uma ferramenta muito importante, passando pela sugestão por parte do psicólogo de algumas atividades ou mesmo rotinas, que facilmente possam ser adotadas e integradas pela família e que sejam potenciadoras do desenvolvimento das competências socioemocionais.

Bibliografia

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Saúde Mental em Saúde Escolar (2016)