Este artigo tem como objetivo dar a conhecer algumas características e formas de avaliar e intervir com a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA).
Nos dias que correm cada vez mais se tem falado sobre esta perturbação e nota-se um aumento de preocupação de pais e professores em querer ajudar os seus filhos e alunos com este tipo de perturbação.
Na descoberta da PHDA surgem várias questões e este artigo pretende ir respondendo a algumas questões que os pais e professores colocam muitas vezes aos psicólogos.
O que é a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA)?
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação do neurodesenvolvimento. Estima-se que em Portugal entre 4% e 6% das crianças em idade escolar apresentem PHDA.
No DSM – 5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais) a PHDA é definida como “uma síndrome, ou seja, um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem todos juntos, de forma frequente, num mesmo indivíduo” e caracteriza-se pelo inadequado desenvolvimento das capacidades de atenção e, em alguns casos, por impulsividade e/ou hiperatividade.
Os sintomas têm início precoce e manifestam-se mais intensamente na infância vindo a atenuar-se na idade adulta.
Todos as crianças/adolescentes com PHDA apresentam os mesmos sintomas?
Não necessariamente.
Existem três tipos de PHDA:
- O Tipo Desatento que é caracterizado predominantemente por comportamentos de desatenção;
- O Tipo Hiperativo/Impulsivo que é caracterizado predominantemente por comportamentos de hiperatividade/impulsividade;
- O Tipo Combinado que é caracterizado pela associação de sinais de desatenção e de hiperatividade.
Quais as características de uma criança/adolescente do Tipo Desatenta?
Algumas das características mais comuns são, por exemplo:
- A criança ou adolescente não dar muita atenção aos pormenores ou comete erros de descuido nas tarefas escolares ou noutras atividades;
- Distrai-se com frequência e com estímulos que parecem irrelevantes;
- Apresenta dificuldades em fixar a atenção nas tarefas ou atividades lúdicas que não considera interessantes.
- Parece não ouvir o que lhe dizem diretamente;
- Apresenta dificuldades em seguir instruções e não conclui os trabalhos escolares, tarefas ou deveres.
- Não consegue ser organizada nas suas atividades;
- Evita, não gosta ou mostra-se relutante em envolver-se em tarefas que requerem esforço mental continuado;
- Perde com frequência objetos necessários para a realização de tarefas, por exemplo, lápis, borrachas, cadernos entre outros.
E quais as características de uma criança/adolescente do Tipo Hiperativa/Impulsiva?
- A criança ou adolescente tem tendência a mexer excessivamente as mãos, os pés ou contorcer-se na cadeira;
- Em situações em que é expectável permanecer sentado, levanta-se muitas vezes da cadeira, podendo sair da sala de aula, saindo das refeições, entre outros;
- Pode correr de um lado para outro e trepar de forma excessiva em situações que não é adequado fazê-lo;
- Quando brinca tem alguma dificuldade porque não consegue brincar de forma tranquila, não permanecendo muito tempo na mesma brincadeira;
- Muitas vezes fala demasiado rápido e mostra-se bastante irrequieta.
Associado à hiperatividade encontramos frequentemente comportamentos de impulsividade:
- A criança ou adolescente muitas vezes tem dificuldade em esperar pela sua vez em jogos, em situações de grupo ou por exemplo quando lhe é pedido para esperar numa fila;
- Tem muita dificuldade em parar e pensar, sendo frequente que respondam de uma forma atabalhoada quando lhe são colocadas questões, já que não espera a conclusão da pergunta;
- Interrompe muitas vezes os outros, incomodando-os ou intrometendo-se em conversas e jogos.
Quais os critérios de classificação da PHDA?
Para saber se estamos perante uma PHDA é importante que estejam presentes pelo menos 6 sintomas de desatenção, 6 ou mais de hiperatividade ou impulsividade. Estes sintomas devem verificar-se por mais de 6 meses com consequências no funcionamento da criança ou adolescente em pelo menos dois contextos distintos como em casa e na escola. Os sintomas deverão estar presentes antes dos 12 anos e devem perturbar significativamente o funcionamento acadêmico e social.
Como é feita a avaliação da PHDA?
A avaliação da PHDA é feita recorrendo a profissionais como o psicólogo e o médico, bem como a vários intervenientes da vida da criança ou adolescente, nomeadamente, pais e professores.
É importante que, inicialmente, seja feita uma avaliação psicológica à criança ou adolescente. Esta avaliação consiste na realização de provas que avaliam a capacidade de concentração e atenção, assim como questões emocionais que possam estar a interferir na capacidade de concentração e atenção.
Será feita uma recolha de informação através de entrevista clínica e questionários aos pais e professores para se obter dados sobre o contexto familiar e escolar.
Posteriormente, e caso de verifiquem indicadores de PHDA, será realizado o encaminhamento para a consulta de Pediatria do Neurodesenvolvimento. O diagnóstico do PHDA é um diagnóstico clínico.
Como se intervém na PHDA?
A intervenção na PHDA pode passar por uma intervenção farmacológica, sendo o médico que indica qual a melhor medicação. A medicação é eficaz e segura nos casos de PHDA e deverá ser complementada por uma intervenção psicológica cognitivo-comportamental.
Como pode a psicologia cognitivo-comportamental ajudar na PHDA?
O psicólogo pode ajudar a criança ou adolescente, os pais e professores.
- Na intervenção direta com a criança e adolescente, o psicólogo ajuda na criação de estratégias de autocontrolo da impulsividade, na diminuição de comportamentos de oposição, na resolução de problemas, no treino de atenção e concentração, assim como na promoção de competências sociais. As crianças e jovens com PHDA podem apresentar uma baixa autoestima e a intervenção psicológica poderá promover o aumento da autoestima e autoconfiança.
- Na intervenção com os pais, o psicólogo pode intervir na gestão de stress parental, através do aconselhamento parental, ajudando a promover uma melhor relação pais-filhos, trabalhando a comunicação familiar e a resolução de problemas.
- Na intervenção com professores, pode ajudar quer na criação de um ambiente facilitador de aprendizagem quer na gestão de situações dentro da sala de aula e nos recreios.
Dado o impacto negativo da sintomatologia da PHDA na qualidade de vida da criança ou jovem, bem como, da sua família, aconselha-se uma intervenção precoce e ajustada, recorrendo a uma ajuda especializada.
Sabe-se que, muitas vezes, as crianças e jovens com PHDA se sentem incompreendidos e experienciam sentimentos de baixa auto-estima, desvalorização, baixo auto-controlo, sintomatologia ansiosa, desmotivação perante a escola e dificuldades nas relações interpessoais.
Se sentir que o seu filho tem alguma das características que foram enunciadas, recorra a um psicólogo.
Nós acreditamos que podemos ajudar. Acredite também.
Bibliografia
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Lobo Antunes, N. & equipa técnica do PIN. (2018). Sentidos. Lua de Papel
Moura, O., Pereira M., Simões M.R. (2020) .Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. PACTOR – Edições de Ciências Sociais, Forenses e de Educação
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Sá, I. Ensinar e treinar pais a lidar com crianças hiperativas. Adaptado Isabel Sá, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, de “Hyperactive children – A handbook for diagnosis and treatment” de Russell A. Barkley, Cap. 8: “Training parents to cope with hyperactive children”